terça-feira, 19 de julho de 2011

uma carta de amor

Isso não é uma carta de lamentação. Tão pouco de auto-piedade.
Daí que sentei aqui pra redigir seu rosto pai. E pra tentar resgatar o amor.
O meu sentimento por você era daqueles puros. Puro por ser gratuito.
Quando foi que ele se tornou oneroso?
Porque eu não consigo simplesmente seguir os conselhos das pessoas e não deixar rolar uma lagrima sequer no meu rosto?
Eu ainda sou aquela menina de cabelo ruim que sentia segurança ao sentar no seu colo. Ou de dançar juntos na rua e mostrar pro mundo o quanto nós tínhamos uma relação peculiar: coincidências de sangue.
Passado.
Mesmo ausente, é presente sua falta na minha vida. Ouvi de um amigo, filho de um amigo seu, que vc não conhece: nossa que pesado isso que vc falou. “ele ERA o meu pai” Isso me tocou profundamente e me fez pensar por dias e dias...
O sentimento, basicamente é de abandono, sabe?
Porque penso que se vc quisesse ter uma relação normal comigo, vc teria tido uma postura diferente...
Eu escuto musicas que me lembram você... E eu choro. E posto no facebook na esperança de vc ver e lembrar de mim também.
Mas daí o lado racional me faz pensar... É você mesmo? Ou apenas uma fantasia que eu criei na minha cabeça de menina angustiada com o mundo do que eu desejava ter como pai que poderia me resgatar da tristeza de viver?
Eu to tão cansada desse abandono... De escrever cartas pra vc que eu provavelmente não enviarei...
Eu não quero saber se vc odeia minha mãe, se ela te fez ficar louco ou qualquer coisa relacionada a qualquer pessoa além de mim. Mas vc não consegue separá-la de mim né?
Dois anos sem pisar naquela casa. Fotos minha espalhadas pelas paredes e uma criança embalada numa cadeira de balanço. Se vc quer reconstruir sua vida, não deixe que a cadeira a embale...
Eu não vou surtar, sabe? Eu juro pro mundo que eu não vou...
Minha vida é boa... Tenho família, bons amigos, um amor pra acalentar meu coração, uma carreira promissora, sonhos colorem minha estrada.... Eu queria tanto que vc se arrependesse dos seus pecados... Pq eu me arrependo dos meus... Mas eu não consigo perdoar alguém que não perde perdão, ou o que é pior, quando pede, continua cometendo os mesmos erros.
As pessoas me dizem: não se envolva emocionalmente com essa historia... Mas como não me envolver com a minha própria história? Eu sou fraca pai... Sou emocionalmente fragilizada. Pouquíssimas coisas me deixam assim, tão vulnerável... E é tão difícil perceber que eu tento lutar contra a menina gorda ingrata que vc amaldiçoou casar com um traficante, mas que vc continua sendo, sem tentar lutar contra, vc continua sendo o filho da puta que tenta “se dar bem” a qualquer custo, mesmo que custe o amor da sua menina.
Eu to desmistificando um pai. E esse processo é doloroso. Bem que me avisaram pra eu deixar isso debaixo do tapete que cobre meu coração.
Mas é a tal da intensidade né? O que fazer com essa explosão de sentimentos aqui dentro? Eles transbordam e surgem como lagrimas e palavras escritas que provavelmente ninguém vai ler.
Sempre disse que não sei como lidaria com a morte de um amor. Nunca ninguém morreu dentro de mim. Daí que tive um daqueles insights de que na verdade, a dor da morte em vida deve ser exatamente essa que sinto... Vc ta matando aos poucos, dolorosamente, vc ta matando meu pai dentro de mim.


ao som de:
http://www.youtube.com/watch?v=xMgtxRqGFWM&feature=related 
e
http://www.youtube.com/watch?v=fIP13qoJUHQ&feature=BFa&list=PLCE69E0FA020E9994&index=2